No final do ano passado, o que nós já sabíamos há algum tempo foi confirmado oficialmente. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em novembro, uma visão detalhada da distribuição populacional por bairros de Minas Gerais, revelando os locais com maior concentração de habitantes. E a pesquisa, realizada no ano de 2022, mostrou que o nosso Buritis lidera o ranking no estado com 42.342 moradores. Essa informação é relevante não apenas para quem mora na região, mas também para urbanistas, investidores e pesquisadores que buscam entender a dinâmica urbana de Belo Horizonte.
O crescimento do Buritis está diretamente relacionado ao desenvolvimento da cidade ao longo das últimas décadas. Originalmente, a área era predominantemente rural, mas, com a urbanização acelerada, o bairro passou a atrair novos moradores em busca de qualidade de vida e infraestrutura. O IBGE, ao realizar seus levantamentos, considera diversos fatores, como a densidade populacional, a infraestrutura disponível e os serviços oferecidos, que contribuem para a classificação do Buritis como o maior bairro de Minas Gerais.
Professor de Geografia da UEMG nos cursos de Engenharia Ambiental, Civil e Minas, Leonardo Gouveia explica que um dos aspectos que tornam o Buritis tão atrativo é a sua infraestrutura. O bairro conta com uma ampla gama de serviços, incluindo escolas, clínicas médicas, supermercados e áreas de lazer. Além disso, a presença de parques e áreas verdes proporciona um ambiente saudável e agradável para os moradores.
"Ao decidir pelo lugar onde quer morar com a família, especialmente em Belo Horizonte, a pessoa analisa todas essas situações. Quem reside no Buritis sabe que não precisa sair do bairro para absolutamente nada, e isso é muito atrativo".
Contudo, para que o Buritis siga nessa crescente as responsabilidades aumentam. Além da busca por melhoria da mobilidade urbana para entrada e saída do bairro, o professor destaca que é preciso manter a qualidade na prestação dos serviços.
"Se a prestação e oferta de serviços declinarem, consequentemente as pessoas irão optar em morar em outro lugar que ofereça este atendimento e, por consequência, gera desvalorização imobiliária. Isso, portanto, faz com que os prestadores busquem seguir sempre com a excelência no serviço".
A análise também destaca o Buritis por sua localização estratégica. Situado em uma área que facilita o acesso a outras regiões da capital, o bairro se tornou um ponto de referência para quem busca um lugar tranquilo, mas que ainda esteja próximo do centro da cidade. O IBGE, ao mapear a mobilidade urbana, evidencia como essa localização favorece o deslocamento dos moradores, tornando o Buritis uma escolha popular para aqueles que trabalham em outras partes da capital.
Além da infraestrutura, outro ponto importante considerado pelo Instituto é a diversidade de perfis dos moradores que o Buritis abriga. O bairro é conhecido por sua mistura de classes sociais, o que enriquece a convivência e a cultura local.
"Ao coletar dados demográficos, o IBGE revela que o Buritis possui uma população variada, composta por famílias, jovens profissionais e aposentados, todos convivendo em harmonia. Essa diversidade é um dos fatores que contribuem para a vitalidade do bairro", destaca Leonardo.
Eu acompanhei esse crescimento
O Buritis passou por diversas transformações ao longo dos anos. Desde a sua fundação até os dias atuais, o bairro evoluiu de uma área rural para um dos lugares mais desejados de Belo Horizonte.
O Buritis é conhecido por ser um bairro de famílias jovens, que escolheram aqui o lugar para iniciarem suas vidas. No entanto, tem gente que fez esta escolha décadas atrás, quando o bairro era um desconhecido e sem todos os atrativos de hoje.
O aposentado Hilário Koch mudou com a família para o Buritis no ano de 1992. Segundo ele, naquela época só havia quatro casas no bairro, uma na Mário Werneck, em frente onde hoje existe o Banco do Brasil, duas na Protásio de Oliveira Pena e uma na Maria Heilbuth Surette. Bem diferente de agora, o movimento de carros naquela época era escasso e ainda era muito comum encontrar bois e vacas transitando pelas ruas desertas. Apesar da realidade bem diferente de hoje, Hilário não se surpreende com a notícia de que o Buritis se tornou o mais populoso de Minas Gerais.
"Eu não fiquei assustado com isso, não, porque era uma questão de tempo. Observo de perto a ocupação acelerada das últimas duas décadas, e o bairro continua crescendo. Por aqui, ainda temos muitos lotes vagos e apartamentos desocupados. Isso, aliado à enorme infraestrutura, cria a perspectiva de que cresçamos ainda mais nos próximos anos".
Outro morador que também acompanhou de perto esse crescimento é o cabeleireiro Anderson Santos. Para quem conhece o Buritis de agora, com esta enorme densidade demográfica, ele diz que deve ser difícil imaginar que, inicialmente, o bairro não poderia receber edifícios, somente casas. Mas, com a mudança na zona de adensamento prioritário ele se tornou um bairro totalmente verticalizado, o que possibilita esta alta população.
"Mesmo com a mudança, ainda foi lenta a expansão demográfica aqui. Somente após os investimentos da MRV no fim da década de 90, início dos anos 2000, que houve esse boom populacional. Hoje, o Buritis é um bairro cheio de vida, diferente de outros bairros mais antigos da região".
Apesar de muito feliz em ver o patamar alcançado pelo bairro onde mora e trabalha, Anderson lamenta a falta de investimentos que ainda há por parte do poder público.
"O asfalto, por exemplo, ainda é o mesmo da década de 90. Vejo o Buritis esquecido pelo poder público, apesar de arrecadarem muito com o IPTU do nosso bairro. Com essa divulgação do IBGE, espero que tenhamos todo o reconhecimento que merecemos".
É importante ressaltar que o reconhecimento do Buritis como o maior bairro de Minas Gerais pelo IBGE não é apenas uma questão de números. Essa classificação reflete a identidade e a cultura local, que são moldadas pela convivência dos moradores e pela história da região. O Buritis é um exemplo de como a urbanização pode criar espaços vibrantes e dinâmicos, onde as pessoas se sentem em casa.