Uma das expressões literárias mais populares do nosso país alcançou um novo patamar recentemente. A partir de agora a literatura de cordel é considerada Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. O título concedido é importante por dois motivos: reconhece o valor de um gênero que ainda sofre preconceito no meio literário e colabora para que a tradição poética do cordel permaneça viva.
Morador do Buritis, Olegário Alfredo é um dos cordelistas mais famosos de Minas Gerais, com mais de 130 obras publicadas. Inclusive, foi o primeiro mineiro a ocupar uma cadeira na ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Natural da cidade de Teófilo Otoni conheceu o cordel ainda adolescente, quando ganhava os folhetins de caminhoneiros que vinham do nordeste e passavam pela cidade. Anos depois se mudou para Belo Horizonte, mas o amor pelo gênero literário não diminuiu. Pelo contrário, cresceu e ganhou uma nova forma. Ao invés de falar da cultura nordestina de Lampião, Maria Bonita e o Cangaço, suas rimas, métricas e oralidade passaram a remeter sobre as tradições da nossa capital. "Já escrevi sobre o Mercado Central, o Clube da Esquina. Sem falar nas lendas urbanas da capital como a "Loira do Bonfim" e o edifício do "Balança, mas não cai", entre outros, ou seja, temas que atraem o leitor".
Por ter caráter popular, de livros que são feitos de uma forma mais artesanal, com materiais mais baratos, ainda existe um certo preconceito à literatura de cordel. Para Olegário, esse título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pode servir também para mudar esta visão. "Muitos não enxergam o cordel como literatura, mas na verdade, enquanto discurso poético, ele é muito rico e refinado, porque necessita de uma técnica de métrica e rima. Faço muitas palestras em escolas e vejo o quanto estes textos despertam a atenção dos alunos. Esta é uma garantia de que o cordel nunca irá morrer", diz.
Questionado se um dia pode fazer um cordel sobre o Buritis, o cordelista confessa que, até então, nunca havia pensado a respeito, mas que agora irá procurar conhecer mais a fundo a história do bairro e, quem sabe, produzir algo. "Sou um apaixonado pela árvore buriti. Quem sabe consigo relacionar isso com o bairro, a sua criação. É uma possibilidade", deixa em aberto o escritor que revela ter uma de suas obras, que fala sobre a história de Dom Quixote de La Mancha, utilizada na grade curricular do Colégio Magnum.
Outros trabalhos
Apesar da grande paixão pela literatura de cordel, o morador do Buritis também se aventura por outras artes. Olegário é o próprio criador de muitas das xilogravuras que vão em seus cordeis, além de pintar, fazer esculturas de cerâmica, rabecas e ser um amante da capoeira. "Eu não paro realmente. Assim que me aposentei do Tribunal Regional do Trabalho consegui dar mais atenção a essas minhas paixões. Sem dúvidas, isto me rejuvenesce".
Quem tiver interesse em conhecer o trabalho do cordelista do Buritis basta acessar o site olegarioalfredo.com.br.
O título dado à literatura de cordel de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro foi concedido por unanimidade pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional (Iphan) em um encontro que ocorreu no mês de setembro, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.